Quando era míudo, gostava muito de brincar com os outros míudos da minha rua. Naquela época, na minha rua eramos muitos... também haviam raparigas, as primeiras a serem objecto do desejo infantil.
Nas traseiras do meu prédio, com o espaço de terra largo, aproveitavamos qualquer tempo existente para brincar. No verdadeiro sentido da palavra. Lembro-me de brincar com os carrinhos nas pistas de areia, de jogar ao espeta em círculos desenhados por nós e cujo objectivo era a conquista do maior espaço possível de terreno. Jogava muito a bola, ás balizas pequenas e também com balizas maiores, sempre feitas de montinhos de pedras. Em terreno mais duro jogava ao pião e até cheguei a jogar hóquei sem patins com um stick feito à mão. Adorava fazer corridas de caricas. E para ter a melhor carica era preciso ter arte e engenho. Tinhamos que arranjar uma carica muito direitinha e depois na parte de cima punhamos uma rolha de plástico das garrafas de vinho, para ficar mais pesada e não sair do passeio. Se saísse do passeio voltavamos atrás e era outro jogador a empurrar a sua carica o mais depressa e engenhosamente que pudesse para passar a frente dos perseguidos. Adorava jogar com os bilas, os berlindes de várias cores e feitios, transparentes com espirais coloridas que mais pareciam universos nunca antes vistos. Ainda devo ter alguns arrumados nalguma caixa. E os canudos... verdadeiras obras de arte feitas pela nossa mão, com tubos de electricidade e fita cola de várias cores que tinham como munição os pequenos e afiados cartuchos feitos de papel das listas telefonicas, ou melhor ainda de papel das revistas, mais duro e resistente. O pião era também lançado para o chão. E eu era um ás com o pião. Adorava o meu pião. Depois de vir da escola, almoçava e lá estavamos nós os putos da rua a decidir o que iriamos fazer, a definir estratégias e planos sobre a melhor maneira de sermos felizes.
E fomos. Muito... Nunca vos esquecerei.
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