08 dezembro 2010

As Aventuras de Sir Monarch - #8

Enquanto conduzia, sempre as mesmas perguntas na sua cabeça. Sir Monarch não conseguia pensar, raciocinar. Resolve tomar um outro caminho que não para o seu hotel. Segue para Pigalle, Rua Condorcet, número 38, segundo andar. Só com um sentido, a estrada. Estaciona perto da porta, junto ao passeio esquerdo. A porteira abre a porta. As escadas em caracol levam-no ao segundo andar. Tira as luvas pretas, e dá dois toques na porta com a sua bengala. Segundos depois, a porta abre-se.
- Boa noite...
- Bonne nuit...
Do lado de dentro da casa, uma mulher pálida e gélida como o árctico. Cabelo preto e olhos verdes. Vestia um robe de seda chinesa preto, com desenhos de montanhas e lagos dourados. A boca pequena e suave pintada de vermelho sangue reluzente.
- Entra Alphonso. O visitante olha a sua hospedeira nos olhos e baixa-os de seguida. Olha para o chão enquanto anda até encontrar a porta para a sala. Volta-se para trás e olha-a de novo. Os seus olhos cruzam-se, e por segundos o tempo para.
- Toujours belle... sempre bela. Desculpa não ter avisado. Nunca aviso.
- Mon petit garçon... há coisas que nunca mudam. Talvez seja melhor assim. Senta-te. Ia preparar um Amaretto. Fazes-me companhia?
- Claro. Vou só trocar de roupa. O quarto ainda fica no mesmo sítio?
- Desde há pouco, sim, se o destino não o desfez.
Sir Monarch dá passos lentos pelo corredor escuro da casa. Familiariza-se com o cheiro, com o chão macio do tapete que pisa. As paredes amarelas, o cheiro a incenso. O quarto com paredes vermelhas, decorado com mobília preta, de linhas suaves e longas. Por cima da cama um espelho de parede. Troca de roupa. Veste um robe de seda branco. Vai ter com ela.
- O teu Amaretto está em cima da mesa. Serve-te. Sir Monarch puxa de uma cadeira e senta-se.
- Bianca, a tua imagem, desde que te vi pela última vez, nunca me deixou. Nem um único dia. Estás... como sempre. És tu.
- Sim Alphonso. Sou eu. A mesma. Nunca saí daqui. A espera de um dia que não chegava, demorava a chegar. O dia de hoje. O que fizeste nos últimos dois anos? Nem uma carta...
- Ma belle... dias houve em que desejei não viver este dia. Mas a minha vontade não se sobrepôs ao coração. Várias vezes me tentava convencer de que eras feia! Horrível. Não o consegui. A razão, só por si não me faria voltar. Mas tu sim. Tu fizeste-me voltar. Desapareci sim. Para tua defesa. Não iria suportar colocar-te em perigo e perder-te. Agora não te tenho, mas estás aqui, como eu estou.
- Mon petit garçon! Solta uma gargalhada e sorri. Vira-lhe as costas e vai até a janela. Olha a rua e diz.
- Alphonso, as minhas noites são como os meus dias. Negras. Nunca deixei de te amar. Ainda amo. Mas não sei se o posso continuar a fazer. Não sei...
Alphonso levanta-se, caminha até Bianca, que está imóvel a olhar a rua. Abraça-a, sem lhe ver a cara, olhando também a rua. As duas caras encostam-se uma na outra. Bianca chora sem ruído. E um beijo emerge dela, para ele.

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