26 dezembro 2010

O que é um Mantra

Um mantra (tib. ngag / sngags, jap. shingon), protecção mental, é uma série de sílabas que invocam a energia de um buddha ou bodhisattva. A repetição de mantras no Vajrayana é tão importante que o budismo esotérico também é chamado Mantrayana, o Veículo do Mantra. Além do mantra, existe a sílaba semente (sânsc. bija), que sintetiza a essência mente iluminada.
A relação entre a fala, a respiração e o mantra pode ser melhor demonstrada através do método pelo qual o mantra funciona. Um mantra é uma série de sílabas cujo poder reside em seu som; através da pronunciação repetida, pode-se obter controle sobre uma determinada forma de energia. A energia do indivíduo está fortemente ligada à energia externa, e uma pode influenciar a outra. (...) É possível influenciar a energia externa, efectuando os assim chamados "milagres". Tal actividade é realmente o resultado de se ter controle sobre a própria energia, através do qual se obtém a capacidade de comando sobre fenómenos externos.
Para contar as recitações, geralmente se utiliza um rosário (sânsc. mala, tib. trengwa / phreng ba) de cento e oito contas. Na prática, considera-se que uma volta do rosário equivale a cem mantras; os oito restantes servem para compensar os mantras recitados distraidamente.
O mantra mais conhecido do buddhismo tibetano é Om Mani Padme Hum (os tibetanos pronunciam Om Mani Peme Hum), associado ao bodhisattva da compaixão, Avalokiteshvara. Nesse mantra, a sílaba Om representa a presença física de todos os buddhas. A palavra sânscrita Mani, jóia, simboliza a jóia da compaixão de Avalokiteshvara, capaz de realizar todos os desejos. A palavra Padme significa lótus, a bela flor que nasce no lodo; do mesmo modo, devemos superar o lodo das negatividades e desabrochar as qualidades positivas. A sílaba Hum, representando a mente iluminada, encerra o mantra.
Os mantras nem sempre possuem um significado claro e muitos deles são compostos por sílabas aparentemente ininteligíveis. Mesmo assim, eles são efectivos porque ajudam a manter a mente quieta e pacífica, integrando-a automaticamente na concentração. Eles fazem a mente ser receptiva às vibrações muito sutis e, portanto, aumentam sua percepção. Sua recitação erradica as negatividades grosseiras e a verdadeira natureza das coisas pode ser reflectida na claridade resultante em sua mente.
Recitamos e meditamos sobre o mantra, que é o som iluminado, a fala da divindade, a união do som com a vacuidade. (...) Ele não possui uma realidade intrínseca, é simplesmente a manifestação do som puro, simultaneamente com a sua vacuidade. Através do mantra, não nos apegamos mais à realidade da fala e do som encontrados no cotidiano, mas os experienciamos como sendo vazios. Então, a confusão do aspecto da fala de nosso ser é transformada na consciência iluminada.
Como actuam os mantras? O som exerce um poderoso efeito sobre nosso corpo e nossa mente. E pode acalmar-nos e dar-nos prazer ou ter influência desarmoniosa, gerando uma sensação subtil de irritação. O mantra é ainda mais poderoso do que um som comum: é como uma porta que se abre para a profundidade da experiencia. Visto que os mantras não têm sentido conceitual, não evocam respostas predeterminadas. Quando entoamos um mantra, ficamos livres para transcender os reflexos habituais. O som do mantra pode tranquilizar a mente e os sentidos, relaxar o corpo e ligar-nos com uma energia natural e curativa.
Em alguns sistemas hindus, diz-se que os mantras são sons primordiais que possuem poder em e por si mesmos. No tantra buddhista tibetano, os mantras não têm tal poder inerente — a menos que sejam recitados por alguém com uma mente focalizada, eles são apenas sons. Porém, para as pessoas com uma atitude adequada, os mantras podem ser poderosas ferramentas que ajudam no processo de transformação.
in Wikipédia

25 dezembro 2010

Quando

Quando eu não te posso ver.
Quando eu não te posso ouvir.
Quando eu não sei se te quero ouvir e ver.
Quando eu te quero ver.

Quando eu não quero pensar em ti.
Quando eu não quero pensar em pensar em ti.
Quando eu não quero pensar.
Quando eu quero pensar em ti.

Quando eu não sei se te amo.
Quando eu não sei o que és.
Quando eu não sei se és quem eu amo.
Quando eu sei que te amo.

Quando eu não sei se és só uma paixão.
Quando eu não sei se és uma ilusão.
Quando eu não sei se a ilusão é a paixão.
Quando eu sei que és.

Quando eu não sei ouvir a tua voz.
Quando eu não sei o toque da tua mão.
Quando eu não sei saber que me tocas e falas.
Quando eu sei que me amas.

Quando eu não te vejo.
Quando eu não te quero ver.
Quando eu não te olho sem saber.
Quando eu sei que te vejo.

Quando todas as coisas eu não quero.
Quando tudo é áspero.
Quando eu não quero nada de ti.
Quando eu quero tudo de ti. Espero.

Quando mais vale pensar em tudo menos em ti.
Quando tudo é mais do que tu.
Quando és mais do que eu.
Quando me apetece viver por não te ter.

Quando tu não sabes que não te amo.
Quando tu não sabes que não te quero.
Quando tu não sabes quem eu sou.
Quando tu sabes o que sou eu.

12 dezembro 2010

As Aventuras de Sir Monarch - #9

Bianca beija Alphonso, apaixonadamente. Derrubando o seu corpo para o chão, de encontro ao tapete. Senta-se sobre ele com o seu robe meio aberto, deixando entrever os seus seios macios e aveludados, terminando em duas pequenas tâmaras. Alphonso leva as suas mãos até elas, senta-se, e neste movimento agarra Bianca. Quase imediatamente, levanta-se, pegando-a ao colo, olha-a nos olhos. Os seus passos levam-nos até ao quarto.
Os dois fazem do quarto a sua caverna, onde só o ar e os seus corpos são reais.
Alphonso acorda. Ainda é de noite. Bianca dorme a seu lado. Ainda bem que estás a dormir, pensa ele antes de se levantar. Veste-se e sai apressadamente do apartamento. Na sua memória a bela Bianca. Guia furiosamente para o hotel, enquanto o dia aclara. Arruma as malas. Está pronto para partir. Praga.
Cheira a frio da manhã. Pede um táxi para Le Havre. Um Douglas C42, está a sua espera, no aeroporto Havre-Octeville. Sempre pronto para uma fuga de emergência, ou uma partida apressada. Sir Monarch conta com a ajuda de um seu velho amigo que reside em Le Havre. Um piloto de aviões da primeira guerra mundial, René Delport, conhecido pelas suas manobras inovadoras e destemidas nos fabulosos Spad S.XIII.
Sir Monarch chega a Le Havre, o estuário do Sena amplia-se cada vez mais. Da janela do táxi olha os eléctricos, os prédios, o porto, e as pessoas que apressadamente vão trabalhar. O táxi para atrás de um eléctrico.
- Pode parar aqui. Eu saio aqui. Disse Sir Monarch para o taxista, pagando-lhe depois a viagem. Só com uma maleta de mão, segue agora a pé ao encontro do seu amigo. Vai a pé até a Rua Henri Demaille nº7. Uma casa com dois pisos, pequena com jardim nas traseiras. O portão está aberto. Bate a porta com a sua bengala.
- AhAh!! Mon ami! È para sair já? Tenho o almoço ao lume!
- Sim, o quanto antes René. Tenho que ir para Praga e já!
Depois de apagar o fogão, René conduz o seu Renault Celtaquatre com prego a fundo, até ao aeroporto. Faz uma paragem na parte de trás de um hangar pequeno onde tem o avião. A espera dos dois estava nem mais nem menos que... Felicia Robertson.
- Bom dia! Presumo que tenha lugar para mais um passageiro?!...
- Felicia... Porque razão não me sinto surpreso? Claro que sim, a sua companhia será um prazer. Até Praga René!
- Allez-y!

10 dezembro 2010

Destino

Um tema que me foi sugerido por alguém, como outros que aqui estão. Pergunto por vezes, já que assim me obrigo a falar sobre um assunto que não me seja induzido por mim mesmo.
Frases que me ficaram na memória: o destino somos nós que o fazemos, o que é nosso está guardado, não há impossíveis, viver um dia de cada vez, o destino está traçado, é impossível mudar o teu destino.
Afinal o que é o destino? Para mim o destino, é o que ainda não foi, o que ainda não sou, o que ainda não aconteceu. O futuro será portanto o destino. Não acredito que o destino, o futuro já esteja escrito num qualquer papel, numa qualquer caixa e guardado a sete chaves. Já fiz tantos erros na vida, que influênciaram o meu amanhã, que não creio que já estivesse destinado faze-los. Decisões apressadas, repentes, mergulhos de segundos onde não é possível voltar atrás na plataforma da piscina. Saltei e não se pode voltar atrás. Somos o produto das nossas acções. Há que aceitar os erros e os sucessos, e evoluir. Não remeter para o destino, uma forma de desculpa egoista, para as acções falhadas e as conseguidas. Sou realista neste aspecto. Há que aceitar as consequências das minhas acções, e tentar fazer melhor para a próxima.
Saber perder hoje para saber ganhar amanhã. Esta frase colide com a moral vigente, que me remete para a culpa. Sou bombardeado pela sociedade, por vários atavismos morais e dogmas sociais. Existe hoje em dia, um constante fluxo de carga negativa que faz com que o individuo per si, se sinta culpado e apontado a dedo, marginalizado, quando não alcança o sucesso. E aqui o sucesso a que me refiro não é o sucesso merecido e conquistado, mas o sucesso efemero e arrancado a ferros, só porque tem que ser. O sucesso vem com o trabalho e o esforço de cada um. Como diaria Fernando Pessoa, "i know not what tomorrow will bring".
Agora antes de acabar, uma provocação a mim mesmo. Tenho gosto pela astrologia, numerologia, tarot, quiromancia, entre outras. Estou tranquilo, porque ainda tenho mais algumas vidas...

08 dezembro 2010

As Aventuras de Sir Monarch - #8

Enquanto conduzia, sempre as mesmas perguntas na sua cabeça. Sir Monarch não conseguia pensar, raciocinar. Resolve tomar um outro caminho que não para o seu hotel. Segue para Pigalle, Rua Condorcet, número 38, segundo andar. Só com um sentido, a estrada. Estaciona perto da porta, junto ao passeio esquerdo. A porteira abre a porta. As escadas em caracol levam-no ao segundo andar. Tira as luvas pretas, e dá dois toques na porta com a sua bengala. Segundos depois, a porta abre-se.
- Boa noite...
- Bonne nuit...
Do lado de dentro da casa, uma mulher pálida e gélida como o árctico. Cabelo preto e olhos verdes. Vestia um robe de seda chinesa preto, com desenhos de montanhas e lagos dourados. A boca pequena e suave pintada de vermelho sangue reluzente.
- Entra Alphonso. O visitante olha a sua hospedeira nos olhos e baixa-os de seguida. Olha para o chão enquanto anda até encontrar a porta para a sala. Volta-se para trás e olha-a de novo. Os seus olhos cruzam-se, e por segundos o tempo para.
- Toujours belle... sempre bela. Desculpa não ter avisado. Nunca aviso.
- Mon petit garçon... há coisas que nunca mudam. Talvez seja melhor assim. Senta-te. Ia preparar um Amaretto. Fazes-me companhia?
- Claro. Vou só trocar de roupa. O quarto ainda fica no mesmo sítio?
- Desde há pouco, sim, se o destino não o desfez.
Sir Monarch dá passos lentos pelo corredor escuro da casa. Familiariza-se com o cheiro, com o chão macio do tapete que pisa. As paredes amarelas, o cheiro a incenso. O quarto com paredes vermelhas, decorado com mobília preta, de linhas suaves e longas. Por cima da cama um espelho de parede. Troca de roupa. Veste um robe de seda branco. Vai ter com ela.
- O teu Amaretto está em cima da mesa. Serve-te. Sir Monarch puxa de uma cadeira e senta-se.
- Bianca, a tua imagem, desde que te vi pela última vez, nunca me deixou. Nem um único dia. Estás... como sempre. És tu.
- Sim Alphonso. Sou eu. A mesma. Nunca saí daqui. A espera de um dia que não chegava, demorava a chegar. O dia de hoje. O que fizeste nos últimos dois anos? Nem uma carta...
- Ma belle... dias houve em que desejei não viver este dia. Mas a minha vontade não se sobrepôs ao coração. Várias vezes me tentava convencer de que eras feia! Horrível. Não o consegui. A razão, só por si não me faria voltar. Mas tu sim. Tu fizeste-me voltar. Desapareci sim. Para tua defesa. Não iria suportar colocar-te em perigo e perder-te. Agora não te tenho, mas estás aqui, como eu estou.
- Mon petit garçon! Solta uma gargalhada e sorri. Vira-lhe as costas e vai até a janela. Olha a rua e diz.
- Alphonso, as minhas noites são como os meus dias. Negras. Nunca deixei de te amar. Ainda amo. Mas não sei se o posso continuar a fazer. Não sei...
Alphonso levanta-se, caminha até Bianca, que está imóvel a olhar a rua. Abraça-a, sem lhe ver a cara, olhando também a rua. As duas caras encostam-se uma na outra. Bianca chora sem ruído. E um beijo emerge dela, para ele.