02 dezembro 2012

Perdi a cabeça

  Perdi a cabeça. Depois de sair da casa de banho, voltei para trás, por que tinha deixado a luz acesa. Olhei para o espelho, e vi que não tinha cabeça. Todo o meu corpo estava lá, menos a cabeça. Com as mãos tentei agarrar a dita. Sem sucesso. Tinha um buraco no pescoço, que se enfiasse a mão, sentia que podia ir até aos pulmões. 
  Sentia o ar a entrar e a sair. Ouvia o bater do coração. Mas que raio! A cabeça terá saltado, tendo ficado no sofá depois de me levantar? Terá ficado na rua depois de ter ido ao café comprar tabaco? tenho que ir a rua, ver se ela lá está! Pensei, para depois me interrogar se seria boa ideia. E se alguém, estiver nas escadas? E se alguém estiver na rua? Não! Não posso ir. Mas tenho que ir. A minha cabeça, pode estar a ser comida por cães, ratos, ou outros animais carnívoros. Já sei! Vou com o meu polar, com o capuz, e escondo-me se vier alguém. Fui a rua, senti o vento no pescoço, mas não encontrei a minha cabeça. Espero que não tenha ficado no café. Afligia-me isso. Mas se assim fosse, já teria sentido, as sirenes da policia. Não pode ter ficado lá.
 Voltei para casa. Procurei e nada. Nem no balde do lixo, nem no micro-ondas. Estava a ficar, ansioso e bastante confuso. Não posso ir dormir, sem encontrar a minha cabeça. Não posso acordar, assim. Não posso ir assim para o trabalho. Se adormecer, quem me diz que vou acordar com a cabeça? Se não a senti desaparecer, talvez ela volte sem me aperceber. E se não voltar? Se adormeço e ela nunca mais aparece, agarrada ao meu pescoço?
  Fui beber café, para não adormecer. Liguei a televisão. Adormeci.