08 maio 2011

Pannjo, the Bartender - #8

Depois da matança cheguei a casa. Omito as aparições de Klalk, estranhamente silenciosas e furtivas. Deitei-me na cama, depois de tirar o casaco. No bolso esquerdo, do lado de fora, guardei a faca de matador. Aos meus pés o casaco. Eu sentia o sangue molhado e húmido, na pele. Que trespassava da minha camisa. A casa sem luz. Fria. E ali, deitado, vestido e acordado, desejava que aquele sangue me amasse. E eu o amasse também. Pus-me de ajoelhado na cama, e executei um ritual animal, que me transcendeu, fechei os olhos. O prazer de ter aquele momento em mim, fez-me exultar todos os sentidos. O cheiro da casa fria, o sangue na minha pele, os sapatos ainda calçados. A minha mão no meu caralho, que vigorosamente queria ejacular. E na minha cabeça passavam todos os momentos da morte. Do principio ao fim. Até morrer também. Cai, exausto na cama. Por cima dos pedaços de mim. O sangue e eu, a vida e a morte. Ainda deitado, tirei um cigarro do bolso do meu casaco, que estava mesmo a minha frente. Acendi e fumei, sem remorsos. Tinha as mãos vermelhas e brancas, de sangue e de mim. E o cheiro, do momento, entrou pelas minhas narinas, e foi alojar-se no meu cérebro. Naquele lugar onde guardo os cheiros. Fiquei a saber que o sangue tem cheiro. E é doce. Sem música, sem qualquer tipo de som ou ruído que o fizesse prever, a minha mão esquerda, lentamente dançava. Uma construção mental de uma sinfonia triunfal para o momento. E não me detive, apreciei o momento. A minha mão docemente a pairar no ar, desenlaçando novelos invisíveis e pintando sons que não ouvia. Parei. Passei a mão pelo cabelo, sentei-me na cama. Olhei-me ao espelho. Apaguei o cigarro no cinzeiro.
Tudo estava igual. A casa estava como a tinha deixado antes de sair. Um buraco frio, escuro e húmido sem janelas, que me abrigava da luz.

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