19 março 2011

Pannjo, the Bartender - #4

Segundo dia de jejum. Fome. Levanto-me da cama. Parece que sonhei com alguém. Vou até a cozinha e agarro numa faca pequena, afiada. Visto o meu fato de treino e os ténis. A gabardina cinzenta, e ponho os óculos escuros. Subo as escadas que dão para as traseiras. O sol quase que aparece. Cheira a humidade. Apetece-me matar. Pela primeira vez, não é uma coisa natural. Não encontrei ninguém com um x na testa, que me levasse a querer matar. É contra natura, pela primeira vez. Como deixar de viver.Olho para os meus ténis vermelhos que contrastam no preto do alcatrão da estrada. Custaria matar alguém assim sem marcação? Um cão passava por mim. Chamei-o. Cortei-lhe a garganta, depois de duas festas na cabeça, Nunca tinha morto um animal irracional. Próximo passo. Um ser humano. Nesta cidade não é difícil encontrar alguém para esfaquear. O problema seriam as testemunhas. Onde é que poderia ter um pouco de privacidade, para matar alguém? Passava por um clube de strip, entrei. Paguei uma cabina. Ela estava completamente nua. Tinha a cona rapada. Morena. Ainda se viam as marcas do bikini. Os mamilos eram carnudos e cor de rosa. Tinha um cabelo dourado, preso atrás. Ondulava a minha frente. Olhava para os seus pés. As unhas pintadas de vermelho. Os saltos altos deixavam marcas na alcatifa. Tocava-me com as mãos, roçava-se em mim. Desejava-a. Estava cheio de tesão que quase me vinha. Sentou-se em cima de mim. cravei-lhe a faca directamente no coração. Não olhou para mim. Estava morta. Não senti nada. Fui embora. Sentia-me nas nuvens. Fui para casa. Não fui trabalhar. Ser dono de um bar tem coisas boas e coisas más. No meu caso mais boas do que más.
Estou em casa. Na casa sem janelas. Sem tempo. Só o espaço. O tempo só o vejo pelos meus olhos. E não sei se esse tempo é real. Há outros tempos? Eu sou o meu espaço. Nada mais é real.

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