10 setembro 2010

Custa-me respirar

Custa-me respirar.
Nem pensar me custa porque não penso. Não quero.
Doí quando penso...
E quero.

O jantar foi um prato vazio.
Imaculado. Branco.
Respiro lentamente.
Sem nada que me prenda aqui.

Sem cordas ou algemas.
Prende o coração alguma coisa.
Intangível. Imaterial.
Não palpável.

E respiro lentamente.
Tão lentamente que o que sinto
É anestesiado pelo bater lento.
O desaparecimento.

Morde-me. Arranca-me a carne.
Rasga-me a pele. Faz-me existir.
De paixão gritar e fugir e chorar.
Mata-me para viver.

Educa o meu corpo. A minha mente.
Faz um beijo parar o meu coração.
Faz um abraço soltar o meu choro.
Um olhar parar o tempo.

Um copo de água translúcida.
Foi o que bebi. Alguns Dunhill.
Janela aberta. As letras aqui.
E o grito que me fazes não gritar, grito.

E o medo. O infinito e infame medo que me invade.
Nojo de mim. Repulsa-me eu. Nada eu sou.
Sou nada. E nada é uma matéria escura. Invisível.
Ali onde se escondem as almas.

05 setembro 2010

Indeciso

Tentando ser o mais breve possível, vamos despachar a parte enfadonha da questão. Indecisão - a causa da decisão. Tomada de uma decisão - a consequência de uma indecisão. E agora a parte engraçada da coisa. Uma indecisão pode não ter como consequência uma decisão. Tomemos como exemplo a morte. Se estou indeciso quanto a se há vida para lá da morte, levarei esta indecisão até ao fim dos meus dias. Se se provar enquanto estou vivo que há vida para além da morte, não tomarei nenhuma decisão. Alterarei sim uma indecisão por uma realidade. Como se pode constatar não é assim tão fácil prespectivar o tema. As indecisões morais são a meu ver as mais difíceis de ultrapassar. As indecisões momentâneas do dia a dia, são mais ou menos fáceis de tomar. E agora a pergunta que me faço. O que é a moral? Podem pesquisar, mas desde já adianto que para mim a moralidade é neste momento que escrevo, uma caixa cheia de enganos e mistificações. A minha consciência é a minha moral. Se fico indeciso com algumas decisões morais? Sim. E todas as decisões são aceites por mim mesmo antes de as tomar. Quando tenho que tomar decisões, em que exista uma segunda pessoa aí a face do papel fica menos nítida. É muito mais complicado tomar uma decisão em que sabemos que irá afectar uma segunda parte. Por isso mesmo ficamos indecisos. Depois de tomada uma decisão tento não voltar atrás. Por muito que me custe. Tento.
Este texto soa-me a bafio. A frases feitas. A realidade é muito mais complexa. As pessoas são muito mais complexas do que pensamos. O que faz com que por vezes as indecisões que temos não são de facto, consequentes com a realidade. Quanto mais conhecermos o outro, mais fácil se torna a decisão.

01 setembro 2010

Desilusão

A ilusão leva a desilusão. A desilusão é consequência da ilusão. Estas duas frases retratam como, comummente é realizada a relação entre desilusão/ ilusão. Ou vice-versa. Muitos escritores e pensadores tem reflectido sobre a desilusão. Quase todos impelem a desilusão como filha da ilusão. Como fugir a desilusão? Não nos iludirmos. A forma lógica e racional, e diria eu mais económica.
Reflictamos sobre a causa da desilusão, a ilusão. Já por si uma ilusão não é uma coisa real. É uma coisa ilusória. Que nos ilude o pensamento. Diferente de coisa irreal. Que poderemos tomar como não real. Não real não significa que não existe. Somente que num certo momento e espaço, não é. Um segundo basta. Ou que seja de dificil discernimento, fazendo a realidade parecer irreal.
A desilusão é uma consequência de uma coisa não real então? Aqui a estrada toma diversos caminhos. Quando se diz que tal pessoa nos desiludiu com determinda acção, tomamos para nós, que estavamos iludidos por essa pessoa anteriormente. Quando nos deparamos com um amor ou paixão que acaba, a ilusão passa a desilusão. A consciência de nós em todos os aspectos da vida é uma arma que nos possibilita com o acesso a razão interior, ao nosso mais profundo ser, identificar a ilusão ou a realidade. A realidade essa sim é difícil de identificar. Não tomar neste caso a realidade com uma parte de nós, em que não existem sentimentos. Existem. Reais. Não ilusórios. A realidade não é ilusória. Não te iludes com uma pedra, ou com o mar. É real.
Pode a desilusão ser util? Pode. Tomamos consciência do que foi ilusão e não real. Apreendemos a experiência e sublimamos as atitudes, pensamentos, acções.
O ser humano é eficiente no que toca a se defender das acções que contra ele são tomadas. O acto de nos iludirmos é propositado? Conscientemente aceite?