29 abril 2009

Eu entendo-te mais do que tu imaginas

Racionalizo. Depois daquele cigarro estou assim. É bom estar, há muito que não estava. A minha cabeça limpa de cores nafetalinosas, adquire tons básicos das cores. O preto é preto, o branco branco e as outras cores, as outras cores. O que parece difícil de entender aparece claro, iluminado por uma luz alva. As sensações voltam de novo. O meu espiríto quebra o laço que o liga ao corpo. O cansaço já é bastante. Não é fácil escrever o que se pensa, colocando linearmente o pensamento aqui, por palavras.
Analiso. Sobra a dureza da pedra. A dureza do ar frio. Podia ser quente. Mas ai já não era pedra, era mar. O ar seria morno e terno. E eu seria o mesmo, e tu a mesma. Sendo contudo diferentes do que somos hoje.

26 abril 2009

Inflexão

Ao ler um poema e depois de o ter lido a minha maneira, fiquei a saber que não o devia ler à minha maneira. De facto ler poemas tem muito que se lhe diga. Fiquei a saber que não devemos ler como se fossemos nós a ler, a ter escrito. Devemos sim, ler como está escrito. Aprendi que devemos respirar, inspirar antes de começar uma frase, e começar a ler quando expiramos. Nada fácil a parte da respiração. Vai levar algum tempo até conseguir dominar a parte da respiração, mas acho que consigo.
As inflexões também não são fáceis. Treino, muito treino requerem as inflexões. Temos que imaginar as palavras como cores, ondulantes no ar que respiramos.
(...) olhou-me nos olhos e disse qualquer coisa. Olhei directamente para ela. Não percebi nada do que me disse. Percebi que estava cada vez mais perto dela. E o rosto dela que me atrai, estava ali perto do meu. Olhava-me diretamente. Senti um outro ser que me falava, um tempo que tinha principio e fim. A frase acabou e recomeçou no ponto que tinha acabado. Encostou-se à cadeira, olhar em frente. E com a mão esquerda, no seu cabelo esticado, brincava com os caracóis. O meu campo de visão era interrompido pelo seu gesto...

17 abril 2009

Por sobre a mesa

Paro frente ao monitor, de mãos abertas sobre o teclado. E começo a escrever.
Olhos verdes. Imagens, várias. Palavras. E não sei se me apetece escrever o que tenho para dizer. Não sei se tenho a coragem de ir para além do sono. Passar o limite do medo, como quando dormito e não quebro a linha ténue da outra margem. Não sei tanta coisa. Agora.
E penso que não é nada de especial, que o teste é, foi ou continuará a ser. Ou não foi, nunca foi ou será. E o aborrecimento é uma coisa normal. E o sentimento que não sinto também. Deve ter a ver com a idade. E toda esta porcaria que escrevo, estas palavras sem sentido, toda esta prosápia de indulgência auto infligida, carece de comprovação. Carece de uma análise.
Como o comprovo? Não vou escrever interjeições por mais que queira, goste ou só porque sim. Recuso-me, a escrever interjeições. Devia saber que não o devo, devia ou deverei fazer. A minha vida está cheia de novas e velhas e futuras interjeições. E quando uma acaba, outra se lhe segue. Não é por querer. Acontece porque sim. E as considerações que faço são tão rasas que não chega para se considerar que choveu. Somente uns pingos se veem. Só ai se nota a chuva das palavras que foram ditas. Estas eu digo. Tenho que ter coragem de as dizer. Tenho que aceitar o presente, como tu o aceitas. E não somos menos nem mais por isso. Somos só nós. E se pudermos retirar alguma coisa da chuva que caiu, que seja tudo menos uma constipação.

12 abril 2009

Um outro eu

Todos representamos um papel. E não é fácil representar o papel de um outro que não nós mesmos. Para mim não é nada fácil. Percebo agora o quão difícil é. Bom este pequeno post é insignificante na eloquência, no tamanho e no peso. Talvez seja bom sinal. Um sinal de mudança. Uma alteração inconsciente, não racional.
Lembro-me de estar deitado nas tábuas e depois em pé e de tudo ser novo. Mas ao mesmo tempo era eu que ali estava.