29 setembro 2007

Um facto

Bom parece que as pessoas me continuam a desiludir e pouco se importam com isso. Só o seu grande ego manda nelas. O que importa é que se sintam sempre no controlo da situação, sempre com o cacetete pronto a malhar na cabeça de quem querem. Toda a prosápia que elaboram sobre qualquer coisa é sempre pensada com o intuito de jogar. E utlizo este termo jogar, para não dizer urdir. Acho que é uma mera perda de tempo gastar cinco minutos numa conversa que parece ser inocente para depois se revelar mais que isso. E essas pessoas devem pensar que são as maiores, porque se estão a borrifar completamente para o que os outros pensam ou sentem. E isso não é ser amigo... Não tenho paciência para pessoas que só veem o seu umbigo. Que se idolatram e não param de se auto-elogiar.
É uma pena saber que existem seres humanos, que de humanos tem tão pouco...

23 setembro 2007

Tu existes

Tu existes. Esta é uma certeza que tenho. Até me dá vontade de rir ao perceber que estou a escrever isto, de tão óbvio que é.
Existes em mim, dentro de mim. Não me perguntes o que sinto, o que temos, ou o que podemos ter. Não sei responder. Só sei que existes em mim.
Pode ser um caso epidémico de paixão, de desejo, não sei. Sei que não te sou indiferente. Uma coisa eu sei. Estás aqui. Em mim. O resto não sei. Só posso fazer o melhor que sei e posso. E tenho raiva de não saber o que é isto. De não saber o que tu queres. De estarmos assim congelados. Talvez não seja importante saber tudo o que não sei. Talvez o mais importante seja saber que existes. Que fazes parte de mim.

Anda desce comigo cama abaixo.

Anda desce comigo cama abaixo.
Deixa a chuva entrar na pele.
Abraça-me e deseja-me.
Tira-me tudo o que tenho.

Deixa-me nú. Crú.
Arranca-me o pensamento.
Esventra-me com o teu beijo.
Deixa-me dar-te...

Baralha-me, confunde-me.
Faz-me querer-te para não mais
Desejar ninguém.
Sob as estrelas és a única...

Grito para que ouças.
Anda desce comigo cama abaixo.
Deixa-me sentir. Faz-me morrer.
Vem comigo.

11 setembro 2007

Já não sinto

Já não sinto.
Estou como que anestesiado.
Não sinto o que devia sentir. A dor.
A raiva. Tudo.

Só sei que respiro. Que estou vivo.
Não consigo pensar.
Tudo é estranho, o que me resta.
Incomodado acho que estou.

Incomoda-me não sentir.
Incomoda-me não pensar.
E estranho este outro estranho,
Que estranha o estranhar.

Uma chama queima o meu cérebro.
Aprecebo-me que está aqui.
E essa luz não a posso ignorar.
Ainda não se apagou...

07 setembro 2007

Pintar?

Estou seriamente a pensar em (re)começar a pintar. Nunca será uma pintura de que se diga com qualidade, tenho essa certeza, mas será um esforço e tentativa para me pôr a prova na arte dos pintores. Bom pintar é desenhar com tintas ou não. Acrílico ou carvão penso que serão as minhas primeiras escolhas. Tenho dois quadros prometidos já a algum tempo. De facto não sei bem quando os irei entregar ou se chegarei mesmo a pinta-los. Neste momento tenho essa vontade. Mas é só vontade. Não passa disso.
Tenho algumas ideias do que irei fazer ou melhor, do que pretendo fazer, mas algumas são bastantes ousadas implicando logística afincada. Quando se diz que na pintura nada se pode inventar mais, penso que é metade verdade. O reinventar, reordenar espaços e cores numa tela é de facto um desafio aliciante. O que me leva para além da estética a querer apreender esta ocupação, é tambem a possibilidade de transmitir ideias ou formas que atendam a um pensamento ou linha. Se essas ideias a transmitir já foram anterirmente equacionadas por outrem não me importa. Vale sim o esforço e a possibilidade de o fazer.
Não me interessa quantas vezes a água da fonte já foi bebida, o que eu quero é beber também.

06 setembro 2007

Era uma vez uma Nina

Certa vez convidaste-me para ir á praia. Já não nos viamos a muito tempo. Por a conversa em dia e acima de tudo, residia em mim a sensação de que esse encontro representava um teste para o que eu poderia sentir por ti. E quem sabe se ao contrário tambem. Passamos o dia na praia, passeamos junto ao mar, no paredão. Não esqueço que a tua prenda não se afundou. Palavras tuas. E por entre olhares velados de incerteza e sensualidade, acabamos a tarde num centro comercial onde te comprei prendinhas...
Chegamos a casa. Tomaste banho. Depois eu. Reparei que na tua casa de banho, estavam muitas coisas de menina. Ganchos para o cabelo, perfumes, um secador. Reparei também e isto não esqueço, que tinhas uma escova dos dentes eléctrica. Saí da casa de banho a cheirar ao teu gel.
Ofereceste-me um snack da Nesquik. Sentei-me numa ponta do sofá e tu na outra. Olhamos nos olhos do outro. A resposta estava dada. Terei sido irreflectido? Penso que não. Fui sincero. Talvez sejas o que nunca irei ter. Não sei. Sei que nessa noite a cama foi só uma, com dois corações separados. E adormecemos.


04 setembro 2007

Uomo-lume

Arranha céus a cair de podre...

Arranha céus a cair de podre...
Um céu escuro de côr castanha.
Um mar de gente esfomeada a seus pés.
Cheira a pobreza. A fome.

Agonio-me. As ruas imundas que piso são esgotos.
As caras tristes e famintas atropelam-me.
Ninguém me olha nos olhos. Olham para o chão.
E como zombies andam por ali.

Tudo organizado. Tudo com um sentido.
O caos é gritante. Tudo é um frame de filme.
Como se fossemos aliens de nós.
Complica-se a fotografia.

O enquadramento é mau.
A luz é mediocre. Os actores sofriveis.
O realizador não realiza.
Seres rastejantes conquistam o seu espaço.

E é tão bom escrever sobre o céu azul.

E é tão bom escrever sobre o céu azul.
Sobre as criancinhas traquinas.
Sobre as flores do jardim.
Tão bom que é falar do amor!

E pintar quadros cor de rosa!
E tentar fugir da vida.
Esperando que ela nos leve para onde queremos.
É tão bom sorrir sempre.

Tudo isto me mete dó.
Tudo isto me entristece.
Qualquer dor não pode ser, só porque não.
E a quem doí não é dada alternativa.

Fingir. Fugir. Fintar o destino.
Não me perco por ruas estreitas.
Ando em largas avenidas, de prédios altos.
E sou mais um que anda.

Um rotor. Que respinga energia.

Um rotor. Que respinga energia.
Zumbe. Aquece.
O metal enfurecido comunica velocidade.
O vento sai-lhe das entranhas e faz voar a máquina.

Qualquer coisa que o parta.
Que o faça parar. Sempre a vontade.
Nem o pensamento é mais forte que a acção.
Basta um dedo no botão.

Tudo se encaixa. Basta querer.
Só com a acção, com esse acto, se pode parar.
Se pode arrancar. Só o pensar é pouco.
Agir é indubitavelmente urgente.

Traçar uma seta no cérebro e segui-la.
Ignorar o ignoravél. Apreender o melhor.
Purificar o salúbre. Transformar o impuro.
E perdoar o que não se perdoa.

As palavras fogem de mim como a água da fonte.

As palavras fogem de mim como a água da fonte.
Não as encontro. Tenho os sentimentos orfãos de letras.
Tenho as dores e alegrias sozinhas e abandonadas.
Às vezes fico no escuro do quarto assim...

E tudo parece óbvio e desinteressante.
Cinzento e sujo como as ruas daqui.
Sem nada onde me fixar.
Sem nada onde me sentar.

Para sentir o que há a minha volta.
E ouço um violoncelo...
E penso no teu rosto.
Qualquer coisa saltita.

É tão estúpido ser racional.
Não sinto quando o sou.
E sem sentir não encontro as palavras.
E escrevo no escuro, nada.