29 julho 2007

Claro. Escuro. Noite.

Claro. Escuro. Noite.
Dia. Água. Areia.
Azul. Olhos. Castanho,
Como as castanhas que comi.

Amargo. Limão. Amarelo.
Sol. Calor. Suor que suei.
Prazer encarnado. Molhado.
Tu.

Querer. Ir. Andar. Caminhar.
Até ao pé de ti. Beijar. Desejos
Inocentes de felicidade. Dor.
Um futuro presente. Gostar.

Estrelas como setas direitas a mim veem.
Passam por mim. Trespassam-me. Energicamente.
Raiado de energia contemplo o futuro.
Com frio de pensar e o calor de amar.

27 julho 2007

Escafandrista

Tinha que apanhar um táxi. Estava o tempo abafado sem um brisa de ar. Entrei e logo comecei a falar com o taxista. Tempo abafado, disse eu. Ele disse que era por causa da maré naquele dia. Não tendo percebido a razão questionei se ele era pescador. Disse-me que não. Que sabia essas coisas por ter passado muito tempo na marinha como mergulhador. Estava praia-mar, nem a encher nem a vazar por isso não havia vento. Logo tive tema de conversa. Disse-me que a marinha portuguesa tem um grupo de mergulhadores prontos para enfrentar qualquer eventualidade. Lembrei-me imediatamente de um filme onde entra o Robert de Niro e Cuba Gooding Jr chamado Men of Honour. Nesse filme em paralelo com a emocionante história, percebemos como a instrução de um escafandrista militar é puxada e dura. Por vezes no limite da dor, quer seja ela fisíca ou psicológica. Montar peças debaixo de água e desmontar. Eram eliminados se perdessem uma porca ou um parafuso. Todas as garrafas de ar eram disponibilizadas para o mergulhador tentar encontrar o que tivesse perdido.Mas o melhor era não perder mesmo.
Fiquei a saber que o terceiro submarino da nossa esquadra se chamava Delfim, juntando-se ao Albatroz e ao Barracuda. Todos para abater, a espera dos dois já encomendados.
O taxista falou-me dos testes em piscina onde era colocada uma garrafa de oxigénio no meio e uma em cada canto da piscina. O teste consistia em passar por todas as garrafas sem utilizar a do meio. Se assim fosse era eliminado. Também era eliminado se viesse a tona de água. Difícil pensei eu. Pois é. Mas para baralhar as contas não estava sozinho dentro da piscina. Atrás dele estavam mais dez colegas de curso a fazer a mesma coisa. Enchiam os pulmões de ar numa garrafa e seguiam para a próxima. Não se podiam demorar em cada golfada de ar porque se assim fosse, menos ar tinham os camaradas que vinham logo atrás. O espírito de camaradagem aqui fortalece-se. Incrível pensei eu. Esta prova de facto parecia-me muito dura. Mas como não chegasse o taxista disse que passou por uma muito difícil. Noite, sem saber a prova que iriam fazzer. Entraram no zebro ( bote dos fuzileiros) até não se ver a costa. Dez no barco com os fatos de mergulho e barbatanas. Saltem! Vinte e quatro horas a nadar. A comida e água era fornecida e sempre acompanhados pelos camaradas nos botes. Passou. Fez várias comissões. Não arranjou trabalho na área porque a dez anos atrás não existia mercado virado para as coisas do mar. Agora já vai havendo mas mesmo assim pouco disse ele. Hoje é taxista.


21 julho 2007

La pazzia


Com carícias e eternos beijos

Com carícias e eternos beijos.
Provas a vida. Olhas a minha boca.
Sentes que me queres. E abraças-me.
Queres sentir mais. Respiras com a boca aberta.

Olhas-me nos olhos e as tuas mãos estão na minha cara.
O teu corpo colado ao meu caminha por mim.
O teu cheiro. A tua pele. A tua boca. Eu sinto.
Queres?

O tempo é de ter. De receber.
Sem misericórdia a paixão ataca.
Do simples passo, o laço se faz.
Enlaçados ali, sentimos o tempo de ser.

Resta-nos respirar o ar. Olhar os olhos.
Sentir o cheiro. Beber o suor. Caminhar a par.
Simples tempos vivemos.
Os dois...

Maquinista

O maquinista do comboio com as mãos o guia.
A máquina obdece ao sentido que lhe dão.
Os carris são repassados pelas rodas de ferro.
O tempo de passar fica para trás.

Chega o tempo de andar, andar, andar.
O ruído dos carris. O cheiro da máquina.
Lá fora andam as coisas. Passam velozmente.
E o tempo é parado por ti. Paras o movimento.

No interior. É um sentir. Um andar estando parado.
Sente-se que se anda depressa.
Sem hipótese de acompanhar o movimento.
Deixando que a máquina te leve. Vai...

Levita. Sofre os mais sentidos erros.
Com a consciência de que a raiva é levada pelo movimento.
Pede que depressa ande. Saúda o andamento. Sorri.
Implode de racionalidade! Só a emoção trasborda de ti.

16 julho 2007

Stolen Kiss

Aviso: Se estiverem numa paragem de eléctrico com um bando de escuteiros espanhois da Andaluzia, não entrem! Tive a triste ideia de entrar e atrás de mim entraram os "escutas" que encheram por completo o pacífico eléctrico da Carris. Never again!
Passámos pelos pastéis de Belém, antes de ir ao CCB. E como está mudado para melhor a casa dos pastéis. Tem um espaço que ainda não conhecia, amplo e recheado de mesas onde os turistas, nacionais e estrangeiros, se sentam para provar o delicioso pastelinho. Ah, se pedirem uma frize de maça, não se esqueçam de pedir de maça verde. Se pedirem uma frize de maça, o empregado pode trazer-vos uma frize de maça reineta ou então como está na moda uma frize de maça-limão! Maça verde...
Passear pelos jardins da Praça do Império, é um verdadeiro prazer. Desfrutar da claridade e do amplo espaço, retempera a alma e enaltece a calma. Para os amantes... um espaço de culto, sem dúvida.
Já foram ao CCB ver a exposição da colecção Berardo? Não...? Então acho que está na hora de programarem uma visita. De facto, depois de tudo o que se disse estava com um certo receio de ir ver uma exposição de alguns quadros de relevo. Mas foi mais do que isso. Esculturas, videos, instalações e quadros que nos deixam sem respirar como se estivessemos no fundo do mar pela primeira vez. Não posso retratar aqui tudo o que vi, mas uma nota especial vai para Mondrian. No final do post vou colocar o link para quem quiser ver o que está a perder. E podem tirar os pins do coração que são grátis! Eu tirei só um e logo o quis por na lapela do casaco. Mas não consegui e por isso tive que pedir ajuda para o pôr. Está direito. Ora aí está o que interessa! O pin tem que estar direito. Quando cheguei a casa reparei que estava um bocadinho torto. Mas o dia esse, passei a pensar que o pin da minha lapela era o mais diretinho de sempre! Ai como nós somos...
Não vi toda a colecção porque já passava da hora de jantar. Jantámos junk food, apanhámos o autocarro da Carris mais pequeno em que já andei. Parecia a Toyota Hiace do meu padrinho. E andava que nem uma doida pelas ruas da cidade. Saimos em Santos e a pé fomos até ao Cais do Sodré até ao O'Gillins. Acabámos aí a noite, porque o tempo assim o ditou.
A música essa foi de facto especial e não nos livramos de ouvir a música irlandesa que no filme Titanic, colocou Kate e Leonardo a dançar. Pouco faltou... O segundo postal foi dedicado...
Deste dia guardo um espaço, agora, para ti. Os beijos e abraços. Os carinhos e tudo, tudo. Tudo o que não consigo descrever por palavras por ser demasiado simples.

12 julho 2007

Fracções

Acabei de encontrar uma melga caída, morta, ao pé do meu pc. Já nem me lembrava que à uma boa meia hora tinha tentado com um bater de palmas, apanhar esse insecto que nesta época do ano invade cada casa que tenha uma jenela aberta (acabei de apanhar outra, agora com um dedo contra o guarda-fatos que está à esquerda da secretária... tou com sorte hoje).
Aqui estou eu e o meu blog, companheiro de muitas noites de insónias e de noites mal dormidas.
Estava a lembrar-me antes de escrever, que era bom recordar os tempos que vivi a cada ano que passava, durante um mês, na terra dos meus avos maternos. Aí, durante um mês por ano tinha contacto com a natureza na sua mais pura realidade. O campo. O esplendor da noite estrelada. Nunca vi um céu como ali. E os morcegos que voavam na noite, em volta da luz do candeeiro que como um aspirador, chamava os insectos. O calor sem sentir a brisa do mar é terrível. E os cheiros das pedras. As casas velhas como aquela em que eu estava. Pedras feitas pela mão dos antigos, trazidas de longe, postas sobre outras pedras no seu conjunto a casa fazia-se. A loja, aquele espaço debaixo da casa, onde se guardava tudo o que se possa imaginar. As arcas com o pão, as pipas com o vinho, as enxadas, as foices e os martelos também. Lembro-me agora do meu avô. Pessoa simples mas que sabia mais que eu e penso que saberá sempre mais. Sabia as fases da lua, o tempo que ia fazer amanhã, como regar e plantar tudo. Conhecia os caminhos e as pessoas. Todos o conheciam. Todos o cumprimentavam quando passava na rua. Tinha eu doze, treze anos, quando passava com ele a caminho de casa. Se disser que parámos três vezes para provar o vinho dos vizinhos, não é mentira. Guardo dele os olhos azuis e a bondade com que me tratava.
Á minha frente tenho na parede um quadro, escolhido por mim de Ibo Dreyer. No canto inferior esquerdo uma fotografia de grupo dos camaradas do meu pai, amigos que ficaram desde os tempos da guerra de África. Cheguei a ir a um desses almoços. E ao início era muito confuso não conhecer aquelas pessoas que tratavam o meu pai como um amigo de à muito tempo. Fiquei a saber coisas que sempre me tinham intrigado, nessa fase da vida bem guardada do meu pai. A guerra não foi fácil para quem tinha dezanove ou vinte anos. E as perguntas foram saíndo da minha boca e respondidas por quem estava mais à mão. Fiquei a saber que não é só no nascimento e na morte que somos todos iguais. Na guerra também. Talvez adicionando os sentimentos e toda a vida que cada um levou para lá. Mas na vida de cada um, não sei se haverá um sentimento de igualdade e de grupo como ali. Sem isso muitos não tinham vindo de volta para a metrópole, Lisboa.
Para finalizar uma lembrança de menino. O cheiro da terra no Inverno, a chuva que molhava quem passava e que para atravessar a estrada punha os pés nas poças de água. Adorava ficar à janela a olhar a rua, as pessoas. O vidro esse, por estar tão perto dele embaciava. Não nos devemos aproximar demais do vidro da vida, podendo ele embaciar e não nos deixar ver a realidade como ela é. Neste momento tenho a janela aberta... e mesmo se fosse Inverno estaria escancarada...

11 julho 2007

Onde a música se ouvia e a orquestra tocava

Onde a música se ouvia e a orquestra tocava,
No alto da cidade nos sentámos e sentimos o outro de nós.
E com a calma por Rainha e o tempo por Rei convergimos ali.
Uma linha se escrevia. Um cheiro se fazia. Um círculo de abria.

E nas pedras as flores de lís escritas olhavam-nos discretas.
E pelo labirinto das ameias, pelas passagens e escadas,
O cansaço não havia. O início.
Sempre a vontade de te ter.

E o frio. A gruta esperava-nos como viajantes perdidos.
A confissão dos rendidos. O olhar dos sentidos.
E o vento. Já com a certeza de nós... caminhámos.
Onde o escuro estava nos sentámos.

Olhei para ti. O beijo. O teu. O meu.
E a noite dos beijos nos sorriu. E a noite foi minha e tua.
A rua clara. A calma de te saber em mim.
O querer te dizer.

E o rio que me trespassa o corpo

E o rio que me trespassa o corpo
Funde-se com o meu sangue.
Prosa física natural que me traz
A saudade que sinto de ti.

E como trovões flamejantes
As visões que tenho de ti,
São puramente eléctricas.
Simétricas. Práticas. Activas.

Sopra o vento na montanha.
Cobre-me o frio...
E estou a gelar.
O tempo é de me constipar.

Vem ao meu encontro e faz-me.
Instala o teu calor em mim.
Cobre-me a cabeça com o teu véu de cetim.
Olha-me nos olhos e diz-me.

09 julho 2007

Não sei o que é... mas que é bom é...

Não sei o que é... mas que é bom é...
Não sei o que é que está a acontecer entre nós. Só sei que estou a gostar de sentir o que sinto. Um sentimento de paz, de calma, de desejo mutuo, um sentir que me entendes tão facilmente. E sentir que te dás sem pejos, sem atilhos. E isso é tão bom sentir. Não pensava encontrar alguém agora, que me fizesse sentir assim. E o dizer que sim, o anuir a tua vontade, saber que o tempo é senhor do destino. Que só ele consegue fazer o que é melhor para nós. Não vale a pena forçar a linha que ele tem. E esse entimento de calma, o sentir o que se quer, saber que o melhor a fazer é esperar que ele nos dê aquilo que por consequência temos que ter.
E diante da minha capacidade racional, vejo-me a chamar-te fofa... agora sorrio... E penso que sou um pouco parvito...
És distante quanto baste para sentir que estás aí. Sabes manter a distância que por vezes, por puro egoísmo queria que não existisse. Mas o mais engraçado é que não sinto qualquer tipo de angustia, de ansiedade. Claro que te quero ter. Mas ao pensar nisso, não me sinto mal. Sei que existe qualquer coisa que me dá a calma necessária para esperar. Talvez seja o saber que não se pode apressar o que não pode ser apressado. Saber que o tempo passa sempre da mesma forma e que ao sentires a mesma coisa, ao quereres a mesma coisa, me completas.
E por muito que queira encontrar uma explicação, agora não me importa em rotular o que temos, até porque o que temos não quero que tenha rótulo. Não quero um rótulo "institucional". Não quero comprimir o que temos com convenções e espartilhos socialmente em uso. O que temos agora é tão bom, que até parece um daqueles produtos brancos dos hipermercados. Melhor que as marcas que existem à venda.
Agora uma reflexão. Á pouco tempo atrás escrevi que para existir uma relação, tinham que existir três permissas: a vontade, o querer e o poder. Quero aqui referir que me fizeste alterar essa equação, somando mais uma permissa. O dever. Esta permissa, é a última e a que anui para que as três anteriores sejam de facto postas em prática. Vejo agora que o dever, está aqui representado como um conceito moral ao nível individual. Não sei se esta análise é correcta, de futuro tentarei fazer mais luz sobre este tema.
E agora para ti... my darling... um beijo.

08 julho 2007

Tu

Tu.
Beijar-te. Sentir o teu corpo que se dá.
Sentir o meu desejo de ti.
E querer mais até ao fim.

O eléctrico que passa, leva-nos para o que queremos.
Traz-nos para o que vivemos. Sabes bem.
Os teus olhos de vontade perdem-se em mim.
O teu desejo é o meu por ti.

E pensar ás vezes basta para saber.
E a tua boca fala e eu olho. E quero.
E um beijo teu é um beijo meu.
Sorve-me com vontade...

O teu cheiro ainda o sinto. E quero mais.
Quero saber quem és...
Quero saber o que és...
Quero que saibamos...

05 julho 2007

Absorto

Absorto como um saco de plástico vazio.
Nem as imagens mais reais e terrenas me fazem sair daqui.
E o querer alguém faz-me mal. Penso demais.
E evoluo para um estado semi-inconsciente.

Reflicto sobre o que fui. E absorto me sinto.
Reagir. Absorver. A lógica não existe.
E a escrita torna-se um exercício fisíco,
Muito mais que mental.

Um passo recorrente, de um animal carente.
E por absorto me sentir, faço traços mentais.
Rasgos de normalidade fugidia.
Sem a nenhuma conclusão chegar. Sem razão para agarrar.

Sou eu e a pele que me envolve.
E ajo de maneira a que tudo seja.
Nem é o que queria, nem o que poderia.
Talvez seja só qualquer coisa...

04 julho 2007

One naked flower







No hay banda!

Este post deve ser o mais estranho que já escrevi aqui. Tudo isto porque me apetece escrever muita coisa mas não o quero fazer. Não porque tenha medo que se saiba do que se trata, porque o posso fazer sem que se perceba do que estou a falar ou mesmo até porque nunca refiro nomes.
Posso ter a ousadia que estou a desconstruir um post? Talvez sim , talvez não. Lembram-se da peça musical onde a orquestra não toca a música, o maestro não conduz, mas que tem público a assistir? John Cage é o compositor para quem tiver curiosidade. De facto apraz-me escrever nada e dizer tudo o que tenho para dizer, sem o dizer. Só eu sei o que escrevi aqui. Só eu sei o que sinto. Só eu sei quem és...