25 fevereiro 2007

Sem título, um rascunho

Da casa nada restava, só as pedras e o telhado lhe davam significado. As cores já não eram as mesmas, tudo lhe parecia diferente como se a realidade ali vivida não tivesse sido por ela...
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Um postal:
Vila Flor, 12 de Agosto de 1975
Minha querida irmã,
A menina está bem de saúde e o toda gente diz que é muito bonita. Rezo todos os dias para que fique bem de saúde. O padre António disse que se pode fazer o batizado à menina no fim de semana que vem. Já é tempo de a batizar não achas? Já passou muito tempo desde que ela nasceu em Fevereiro, e como o tempo está a ficar melhor ela já pode sair à rua sem muitas preocupações.
Um beijinho da tua irmã Idália
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Levou a mão à sua bolsa e tirou de lá um postal que tinha trazido de Lisboa. O postal que a tinha feito voltar à terra de onde era natural a sua mãe Idália e a sua tia Noélia.
Vila Flor nos anos setenta era uma vila em que a principal ocupação de quem lá estava era a agricultura. Muita coisa mudou entretanto, já existem mais casas de comércio, mais bancos e até veterinário a vila tem. (continua)

Nick Cave & The Bad Seeds

Para quem ainda não ouviu Nick Cave, que faça uma busca em qualquer discografia, de uma qualquer discoteca. Acompanhado pela sua banda de sempre, Nick Cave & The Bad Seeds, têm um som quase sempre melódico em que a música da banda acompanha a voz sóbria e intensa de Cave. Tem de facto uma maneira muito característica de compor as suas músicas, em que leva diariamente um horário regular de trabalho de oito horas a compor. De facto, penso que se deve a este esforço diário, a sua intensa carreira. De salientar como um mero exemplo, está um dos seus albuns dedicado totalmente ao homicídio. Todas as suas músicas contam uma história em que existe uma morte. O album chama-se "Murder Ballads". Para quem não conhece a não perder. Boa música.

23 fevereiro 2007

Sabores

Irei ter coragem para te beijar? Irei ter coragem para olhar nos teu olhos e dizer... amor. Irá esse momento existir na realidade? Talvez nunca. Mas desejo esse momento com uma suavidade tremenda. Sem qualquer espécie de agrura ou pressa. E sinto que se não existir esse momento não te vou peder. Eu sei. E sei que isso não chega para este ser que é humano, que deseja o teu corpo, a tua mente. Que quer o fisíco e o intelectual. Os humores e os odores. Os sabores como serão? A que saberás tu? A que saberei eu? Adoro-te.

Presente

És presente em mim.
Sinto-te como uma caricía na face.
E é bom sentir esse carinho que me dás.
E és calma dentro de mim.

Obra do acaso este amor que te ama,
Que te pensa, que te deseja...
E que te sente. Sentes o meu amor por ti?
Eu sinto.

E é um sentir de amar meu amor.
Que me deixa inebriado e extasiado.
Num nirvana de calma e paz.
Que me faz sentir feliz, sem o ser.

Na noite o teu olhar será tão belo como de dia?
Quando vem a noite amor?
Quando vem a dureza da realidade?
Quando irei sentir o teu coração junto do meu? Juntos.

21 fevereiro 2007

Esperança

Era uma noite como todas as noites que já tinha vivido. Passeava-me por entre as árvores com esperança, subindo a encosta elevada. Subi e de lá de cima olhei a cidade que dormia. O frio gelava-me a cara, as mãos, o corpo. E gelava de frio. E sentia o ar frio que entrava pelo meu nariz e chegava aos meus pulmões. Olhei atentamente todos os pontos de luz oferecidos pela cidade. Resolvi descer e entrar nela. Pus os pés no passeio escorregadio, e continuei a andar rua abaixo até encontar um café aberto. Nada normal áquela hora, já de madrugada. Ao balcão pedi um café para acompanhar um cigarro que trazia na mão. O café estava vazio, só o empregado de balcão me fazia companhia. Sentei-me na mesa junto ao vidro que escorria água. A chuva começava a cair com mais força. Acabei o café e pedi, como de costume uma amêndoa amarga para desentupir as vias respiratórias. Doce e amargo ao mesmo tempo, uma dualidade que sempre gostei. O tempo que ali passei não passou. O tempo queimou-se de tanto pensar. E já era de dia, com o sol a nascer quando me apercebi das horas. Saí do café sempre com o corpo a dizer que era melhor parar , encontar um sítio para repousar. E com esse desejo físico na mente, entrei numa livraria. Sempre os mesmos assuntos, sempre as mesmas estantes.
E de repente encontrei o que por mero acaso, me tinha levado ali. Um livro pequenino. Agarrei nele, olhei para o preço e disse que sim. Era aquele. O título não importa agora. O que importa reter é que a esperança, mesmo não sabendo por que se sente, ela por vezes recompensa o seu portador.
Sentir que o minuto seguinte pode ser o momento mais maravilhoso da nossa vida é um sentimento irresistível.

Saberei eu

Saberei eu o porquê?
Das águas serem claras?
Do céu ser azul?
De te amar assim?

Saberei eu se te vou abraçar?
Não temo a morte. Ela está aqui.
Na vida, a morte é presente.
Saberei eu o que é a felicidade?

E com a última paragem como espera,
Reflicto sobre o presente.
Assim tudo parece pouco, ínfimo.
Não sou assim tão infeliz.

Saberei eu porque não me contento com tanto?
Porque sou um sonhador de alma desfraldada ao vento...
E no momento de sonhar será que te vou amar?
Saberei eu o porquê de saber que sim?

18 fevereiro 2007

Sempre

Sei que gosto de ti linda. Só isto é que sei. Tudo o mais, a racionalidade neste momento está posta de parte. Escrevo com os sentidos. Sei que adorava olhar nos teu olhos e sentir o teu olhar em mim. E dizer que te amo, em voz alta, só para ti. Nunca vi beleza assim numa mulher. Tens uma beleza doce, um olhar que me atrai. Uma coisa inexplicável de dizer por palavras. Queria passar a mão pelo teu cabelo e deitar a tua cabeça no meu ombro. Abraçar-te com força. Foges de mim... Amor, eu estou aqui. Quando precisares de mim estarei sempre aqui. Sempre.

Táxi

É recorrente hoje em dia que alguns de nós andem de táxi. Uns mais outros menos. Mas como pelo menos uma vez todos já andámos, aqui fica a minha opinião sobre esse magnífico transporte público. Existem várias empresas que exploram o ramo em Lisboa. A Rádio Táxis e a Autocoop são das mais conhecidas. Os senhores condutores de táxis, os chamados taxistas, são aquilo que costumo chamar de pessoas do povo. São gente como nós que trabalham para por comida na mesa, para pagar as contas mensais da casa e dos três telefones móveis. Eles não se preocupam muito com o preço do gasóleo, o patrão paga.
Dizia que estas pessoas, sendo do povo tem todos os mesmos vicíos de todos nós. Por isso sempre que estiver na presença de um taxista bruto ou estúpido, diga para você mesmo: o gajo é do povo! Com esta pequena frase a sua viagem irá ser muito mais agradável. E até pode vir a concordar com algumas da opiniões absurdas e estupidificantes que o condutor do carro onde também vai, vocifere.
Lembre-se que não pode em desespero, abrir a porta e sair. Ele não iria gostar de prestar declarações na esquadra e tentar esconder o seu ar bruto e insensível. Afina de contas ele é pago para conduzir e se não conduzir não ganha.
Sempre que entrar num táxi, em Lisboa ou em Pequim, tem sempre que fazer uma coisa. Anotar, em papel ou mentalmente o número do táxi. Pode fazer jeito se esquecer a carteira, ou mesmo se não quiser apanhar o mesmo idiota na próxima vez que lhe aparecer á frente.
Táxiii....!

Momentos

São sempre momentos calmos aqueles que tenho quando a minha mente vê a realidade com clareza. Sem ausência e sem ansiedade. Vejo o presente, a realidade como ela é. Sem salas de cinema, caleidoscópios ou mesmo espelhos. O presente é a realidade e nada, nem ninguém o consegue mudar. Eu pelo menos tenho a consciência de que não consigo. Mudar no sentido de ter aquilo que quero, até porque não posso mudar o que não podes ou não queres ser.
A consciência da realidade existe em conjunto com uma calma e sentido de existência. Existência de mim e de ti. A existência da vida e de tempos diferentes. Não és parte do meu tempo, mas sim da minha emoção que está e ficará para além do tempo. A clareza ou racionalidade de mim, só poderão ser alteradas por um sentido externo a mim. Por uma causa efectiva que me faça alterar o rumo que está definido.
Não vou forçar, não vou lutar por ti. E luto contra mim mesmo. E tu estás fora desta equação. Sempre o soube.

17 fevereiro 2007

O silêncio

O silêncio.
Intrépido momento de obscuras visões.
Aquele momento em que a luz desaparece.
Em que nós não somos nós.

Representar o momento dos bravos.
Sempre que o escuto somos muitos.
E no silêncio adormecemos.
O momento de existir.

Reflexão do tempo em nós. Que existe por fora.
O silêncio trás-me até ti.
Até ao teu profundo ser.
Ao interior da tua alma.

E quando o silêncio desaparece.
Tudo fica claro. Mais nítido para mim.
Depois da dor e da disfunção.
O silêncio morreu.

13 fevereiro 2007

Quando era míudo

Quando era míudo, gostava muito de brincar com os outros míudos da minha rua. Naquela época, na minha rua eramos muitos... também haviam raparigas, as primeiras a serem objecto do desejo infantil.
Nas traseiras do meu prédio, com o espaço de terra largo, aproveitavamos qualquer tempo existente para brincar. No verdadeiro sentido da palavra. Lembro-me de brincar com os carrinhos nas pistas de areia, de jogar ao espeta em círculos desenhados por nós e cujo objectivo era a conquista do maior espaço possível de terreno. Jogava muito a bola, ás balizas pequenas e também com balizas maiores, sempre feitas de montinhos de pedras. Em terreno mais duro jogava ao pião e até cheguei a jogar hóquei sem patins com um stick feito à mão. Adorava fazer corridas de caricas. E para ter a melhor carica era preciso ter arte e engenho. Tinhamos que arranjar uma carica muito direitinha e depois na parte de cima punhamos uma rolha de plástico das garrafas de vinho, para ficar mais pesada e não sair do passeio. Se saísse do passeio voltavamos atrás e era outro jogador a empurrar a sua carica o mais depressa e engenhosamente que pudesse para passar a frente dos perseguidos. Adorava jogar com os bilas, os berlindes de várias cores e feitios, transparentes com espirais coloridas que mais pareciam universos nunca antes vistos. Ainda devo ter alguns arrumados nalguma caixa. E os canudos... verdadeiras obras de arte feitas pela nossa mão, com tubos de electricidade e fita cola de várias cores que tinham como munição os pequenos e afiados cartuchos feitos de papel das listas telefonicas, ou melhor ainda de papel das revistas, mais duro e resistente. O pião era também lançado para o chão. E eu era um ás com o pião. Adorava o meu pião. Depois de vir da escola, almoçava e lá estavamos nós os putos da rua a decidir o que iriamos fazer, a definir estratégias e planos sobre a melhor maneira de sermos felizes.
E fomos. Muito... Nunca vos esquecerei.

11 fevereiro 2007

Charutos

Cheguei com a incumbencia de comprar uma prenda. Já tinha na ideia comprar charutos. Depois de percorrer varias ruas para encontrar os ditos charutos, entrei na Brasileira. Não tinha charutos, acabei por comprar tabaco para mim. E lá soube que no Chiado talvez houvesse.
Saí, de lá depois de ter bebido um café e com os charutos embrulhados em papel com um laço. Estive á espera do pessoal no restaurante, fui o primeiro a chegar. Não quis ficar na mesa vazia e fui para o balcão. Pedi um martini rosso, e o empregado retorquiu com um: Oi? Pensei logo, estamos mal! Voltei a pedir e desta vez soletrei letra a letra: m-a-r-t-i-n-i r-o-s-s-o. O tipo parecia que estava com uma dificuldade qualquer que não dava para perceber. De repente apareceu um tipo parecido com o Al Pacino do meu lado direito. E eu voltei a pedir. Ele tambem parece que padecia da mesma enfermidade que o outro. E de repente na minha cabeça fez-se luz. Disse-lhe que estava ali para jantar e que já estava marcado. Passei de pedinte a burguês num décimo de segundo! O senhor de preto deu a ordem para me servirem um martini. Até pude fumar após perguntar.
O jantar estava óptimo, assim como a companhia. Os mesmos que foram votar hoje, os mesmos que contribuiram para que o aborto fosse despenalizado ate às dez semanas de gravidez. Um pequeno passo para cada um de nós mas um grande passo para a nossa sociedade.
Passamos por vários pontos de diferentes ambientes da capital (Funicular, Incógnito e Jamaica), bares com alma própria e diferentes texturas. A chuva miudinha e o frio faziam com que me mantivesse de pé.
Conheci um galês que trabalha para a RTP, que me deu a possibilidade de praticar o meu inglês enferrujado. E nessa mesma noite o porteiro de um conhecido bar da cidade foi atropelado por uma mota! Mas andava pelo seu próprio pé. O tipo lá se meteu num táxi e foi para o hospital.
Esta noite foi daquelas que não se esquecem facilmente.

09 fevereiro 2007

Queria ter

Queria ter. Ter para te amar fisicamente.
Mas já te amo. Sem físico.
Queria amar-te em ti.
E olhar nos teu olhos e dizer: amor.

És assim, com ternura e meiguice
Fazes com que me apetaça agarrar-te.
E ao mesmo tempo a razão invade-me o cerebro.
E paro. E digo não.

Por ti respiraria o mais impuro ar,
iria ao fundo do mar.
Olhar para ti e fazer do tempo um eterno momento de amor.
E saber que te amo é suficiente.

Amo-te.
Incondicionalmente.
Sem restrições.
Aqui e agora.

06 fevereiro 2007

E afogo-me por ti

Tenho que assimilar a perda do que nunca tive.
Aprender que não se pode ganhar sempre.
E mesmo assim acho que ganhei.
Não sei o que.

Não sei o que me deste ou o que me continuas a dar.
Mas sinto que me dás, agora.
Neste momento em que escrevo.
Nem que seja um simples e inocente beijo.

E, paixão não te culpes pelo que não tens culpa.
Deixa-me, não me agarres. Deixa-me cair.
É tão bom cair por ti.
E é uma dor de amor.

E o rio que corre dentro de mim
Vai para o mar, o meu mar...
Tudo em mim vai para lá,
E afogo-me por ti... em ti.

05 fevereiro 2007

Quero-te tanto agora

Quero-te tanto agora,
Queria ter a tua boca na minha
E sentir a tua língua.
Os lábios teus em mim... na pele.

E sentir o teu cheiro uma vez,
E olhar nos teus olhos mor,
E sentir o melhor sentimento que existe.
Apertar-te contra mim com força.

Desejar que esse momento não acabasse
E dar-te o meu eu para sempre parado ali.
E suspirar de paixão sentindo as tuas mãos no meu pescoço.
O teu desejo de mim, essa infeliz sensação que não é.

E queria ter-te para te perder e saber
Que também gostas.
O meu mais intimo e recondito lugar
Do meu corpo chama por ti.

04 fevereiro 2007

Claro que não

A razão, sempre ela me faz chamar à realidade. Não sejas tolo e irresponsável, clama ela! E por momentos ela ultrapassa a emoção e tudo se torna claro como a água que brota da nascente. Não vou por ali, vou por aqui, vou fazer isto e não vou fazer aquilo. É fácil, parece até que a razão sempre domina o meu pensamento. E quando a emoção toma as redeas do pensar, é como se fosse consentido, como se em dado momento eu escolhesse ficar emocional. Agora vou ficar assim! É tudo muito estranho, esta coisa de racionalizar emoções. Mas quando se deseja o que se quer, e para o ter temos que ferir o outro, a razão aparece e diz: NÃO! Claro que não. Por isso digo que sou egoísta.
Mas existe sempre o querer, e pensar que se não tentar nunca saberei a resposta. Eu sou assim, um tipo que quer sempre saber se consegue, mesmo sabendo a partida que estou em clara desvantagem. E ás vezes dou cada trambolhão que até doí. Existe aqui uma consequência que depende da causa. A causa eu sei qual é, e também sei que é no minímo impossível que a causa de tudo isto, se manifeste da mesma forma. A não ser que a água seja vinho e o vinho seja água.

E cheguei aqui...

Hoje quando acordei com as gaivotas a fazerem barulho no telhado foi o máximo. E pela janela do telhado conseguia ver se o tempo estava mau ou não. E já era tarde por isso disse adeus à casa que me acolheu por uma noite. Uma casa linda, que me faz querer voltar mais vezes.
Saí, sem antes deixar um bilhetinho a agradecer o livro, desci as escadas íngremes de madeira restaurada, e abri a porta. Que frio! Era já tarde mas como era domingo não se via nínguém por ali. Uma calma tão boa aquela que eu senti quando saí.
Fui a um centro comercial (para mim o menos comercial de todos) beber um café para abrir a pestana e aproveitei para comprar prendas para mim próprio. Estava muito bem agasalhado, por isso o frio só incomodou a ponta do meu nariz. Não tardei muito para não me atrasar, e lá fui eu para casa.
E cheguei aqui...

02 fevereiro 2007

Não percebo porque gosto tanto de ti...

Ainda hoje me pergunto o porquê de tentar encontrar paixão onde só eu a vejo. É uma estrada de um só sentido aquela que percorro. Penso em ti, e não consigo entender, sendo essa paixão impossivel de se materializar, como é que ainda continuo assim. Devo ser masoquista! A verdade é que estar apaixonado, se assim lhe posso chamar, também é um estado que faz esquecer o passado recente, mas não tem sentido por mais que tente. És linda, acho que isso me faz tentar chegar a ti, o meu sentido egoista aqui manifesta-se. Preenches um vazio que existe, um desejo que me apetece, uma voz que me escuta e me tenta entender.
Sinto que existe qualquer coisa, não sei definir o que. Mas existe, nem que seja só da minha parte. E racionalizo o medo, a perda, o desejo de ti.
E não percebo onde irei ter assim. Talvez um dia acorde e diga: já nao gosto mais de ti como gostava. Mas agora é impossível pensar assim. Acho que não quero pensar assim. Não quero até que um dia te diga o que nunca te disse, e nesse dia tudo vai acabar. A estrada vai chegar a um beco sem saida, que eu sei que tem. E aqui não há nada a fazer.
Não percebo porque gosto tanto de ti...